Em setembro de 2023, Frieda Delvaux e Jean-Paul Van Parys, com o apoio de Eduarda Paz, embarcaram na missão de colher estacas de cultivares de camélias belgas em jardins portugueses.
O seu objetivo é completar a coleção de camélias de origem belga no Arboretum Provinciaal Domein Het Leen (Bélgica). Este prestigioso Arboreto é o único Jardim de Excelência da Sociedade Internacional de Camélias (ICS) em Bélgica. Já conta com uma coleção notável de mais de 1250 espécimes de camélia.
No século XIX, Bélgica liderava a horticultura. Renomados botânicos belgas e as suas publicações ajudaram a disseminar conhecimento por toda a Europa. Entretanto, as suas magníficas exposições foram a grande vitrine para os horticultores do país.
Camellia japonica ‘Mathotiana’, originada por Mathot em Ghent (Bélgica) em 1847.
Até 1886, profissionais e amadores belgas introduziram quase 450 novos cultivares de camélia.
Infelizmente, acredita-se que mais de um terço desses cultivares esteja extinto, já que não há informações disponíveis desde que foram criados.
Contudo, muitos outros cultivares de camélias de origem belga foram comercializados por toda a Europa.
Em 1886, o Real Estabelecimento Hortícola de José Marques Loureiro, no Porto, que orgulhosamente afirmava ser o maior da Península Ibérica, oferecia para venda 56 cultivares de camélias belgas.
Muitos jardins históricos portugueses ainda preservam as suas coleções originais de camélias, o que despertou o interesse de Frieda, Diretora da ICS para o Benelux.
Em 2018, Frieda assumiu esta tarefa de seu predecessor, Marc De Coninck. Ela concentrou esforços nas camélias de origem belga exportadas para Portugal, e que ainda não estavam em sua coleção. As possibilidades de encontrar mais de um cultivar em cada viagem são bastante altas, o que ela considera um sucesso.
Antes de cada viagem, Frieda prepara uma lista das camélias em falta baseada na lista de Marc e no inventário de Het Leen. Ela também pesquisa os jardins ou viveiros que possam ter cultivares de camélias belgas.
Jean-Paul é o principal responsável pelo Jardim Botânico de Het Leen. Ele traz ao projeto sua experiência técnica para o sucesso da replicação. Isto inclui desde como cortar e transportar até à promoção do enraizamento das estacas num ambiente de temperatura e humidade controlado.
Atualmente, têm 67 estacas de camélias históricas de origem belga em crescimento. Destas, 47 são do estrangeiro ou não têm planta mãe disponível. Algumas estacas provêm de Alemanha, Austrália e Nova Zelândia, embora a maioria seja de Itália e de Portugal.
“Descobrir as camélias que faltam é gratificante, mas a maior satisfação vem de ver as estacas crescer.”
Frieda Delvaux
Santar Vila Jardim
Eduarda Paz, Diretora da ICS em Portugal, apoiou Frieda e Jean-Paul nesta viagem.
Eles sabiam que alguns jardins portugueses tinham identificado cultivares de camélias belgas. Após entrar em contato com os proprietários e organizar todos os detalhes, planejaram uma visita intensiva de quatro dias.
Frieda e Jean-Paul repatriaram estacas de 13 cultivares diferentes. Entre eles incluem-se algumas da região Centro, como de Santar Vila Jardim e do Quintal do Forno.
Quintal do Forno
“Quando entrei no Quintal do Forno, fiquei surprendida ao ver tantas cameleiras antigas em tão boas condições. Foi também impressionante ouvir sobre o tempo dedicado ao exame de documentos históricos relacionados com as camélias.”
Frieda Delvaux
Do sucesso da viagem de Frieda Delvaux e Jean-Paul Van Parys a Portugal destaca a importância da colaboração internacional na preservação de cultivares históricos de camélia e, portanto, da história das camélias.
Completar a coleção de camélias de origem belga não serve apenas para exibir o legado da horticultura belga. Também garante que estes escassos cultivares históricos sejam preservados e exibidos para inspirar e envolver as gerações futuras.
Camellia japonica ‘Vicomte de Nieuport’ é o cultivar histórico de camélia de origem belga do Quintal do Forno que tem contribuido para o Arboreto de Het Leen.
“A partilha e troca de material vegetal é um dos objetivos da conservação de camélias históricas.”
Eduarda Paz